quarta-feira, 16 de março de 2016

Notas políticas após as reviravoltas

A política nacional poderia ter entrado no ritmo do viral "boom! It hit me hard from the back!". Podemos observar que o maior "plot-twist" do Brasil é que as pessoas, de fato, ainda guardam suas vuvuzelas da Copa de 2010. Cá estão elas novamente. Mas, fora isso...

Nota-se que, em tempos apressados de pessoas sem-tempo, é essencial ser sucinto quando procuramos emitir uma opinião. Especialmente quando nos levamos a sério (santa inocência) e tentamos ser, de fato, lidos, assimilados - não é fácil achar gente com tolerância pra "textão". Então vou tentar ser pragmático, objetivo, pontual (desculpem a tergiversação, era minha última...):

 - A nomeação de Lula, que me parecia improvável por soar como um tiro no pé do Governo, deixa claro que Dilma desistiu de seu mandato e declara, nas entrelinhas, sua renúncia anunciada. Lula tentará restabelecer o carisma do partido, ou criar um novo, em prol da governabilidade (de 2018, é claro...);

 - O juiz Moro atropelou muita coisa da nossa legislação (e não por desconhecimento, não seja ingênuo) para abrir ao público um diálogo que não diz absolutamente nada. Consequência da lógica punitivista, revanchista, que tem imperado nos protestos tão democráticos que vêm acontecendo: se você discorda de mim, eu vou dar um soco democrático na sua boca; 

 - Temer deve ter dado boas gargalhadas ao perceber que Dilma - que segundo ele o tratava como "vice decorativo" - virou basicamente a rainha da Inglaterra, só que sem a classe: não serve para nada, mas ainda tem uns malucos que defendem como se fosse a própria mãe; 

 - Moro, que já vinha recebendo cartas, finalmente se mostra como um jogador, numa manobra brilhante (do ponto de vista jornalístico): ao divulgar áudios, ele atrai o holofote para Dilma e Lula, e do povo não há Pragmatismo Político que os salve; 

 - Não dá para confiar no Governo, não dá para confiar na Oposição, não dá para confiar no Judiciário... Me lembra uma palavra: "Militares". Quantos se darão conta que eles não são nenhum dos três e podem ter voz ativa? Sim, acho que militares no poder seria a pior coisa que poderia acontecer, e por isso sou tão "paranoico". É agora que ligamos pro Batman? Não há terceiro lado no debate. É queijo catupiry com goiabada cascão (junto à vontade de comer, que é o povo).

 - Quem trata a corrupção como crime moral hediondo dá voz às vertentes menos seculares que protestam por valores. Militares. Religiosos. Ultraconservadores. Cuidado...

 - Os protestos são tipo torcidas organizadas. Seus antagonistas são tipo os palhaços que passam esbarrando para provocar mesmo. Nós tâmo aqui como uma espécie de torcedor-família que só quer assistir ao espetáculo.


Finalmente, o que eu gostaria de comentar é que a tragédia anunciada impacta na vida de cada um de nós de maneira perceptível, portanto precisamos nos atentar ao que apoiamos. Limites de crédito, inflação, dólar, vagas em creche, programas sociais, enfim, várias coisas podem estar dependendo do que aconteça a partir de agora - além, claro, da renúncia de Dilma.
Não precisa ser a favor do Governo para não apoiar a oposição. Não existe neutralidade nesse momento, por outro lado. O debate é complexo e, como disse Aécio, não sejamos levianos. Lembrem: A História punirá àqueles que se posicionarem contra o historiador que contá-la.
Nossa cultura é incrivelmente jovem. Esperar que debates não-maniqueístas floresçam no cenário atual é utopia demais: os Estados Unidos nunca superaram e olha que eles estão mais sólidos que nós em algumas centenas de anos. O que me entristece é que tendemos, por alguma razão cultural, a formar pensamentos revanchistas, punitivistas, agressivos, com um mero discordar de opinião que afinal lida com temas delicados, mas nada além disso. É o que me deixa embasbacado: a vontade do povo, seja oposição, governo, direta, esquerda, ciclista, motorista ou cobrador, em silenciar o outro, na lógica (perceba a ironia) antidemocrática da ditadura da maioria.

Estamos diante de um momento histórico completamente diferente de tudo que o Brasil já viveu desde a CF88; não podemos confiar em ninguém, do judiciário ao executivo - isso é até percebido por aqueles que não demonstram apoio incontestável por repudiarem algo ao extremo, mas a grande massa se perde em venerações fúteis.

Aliás, panelas eram chatas, mas buzinas se superam. Parem com essa porra, caralho.